sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Meu Nome Não é Jano - Dois


mencionei que minha mãe, apesar de como encarou a experiência anterior, teve uma segunda gravidez e que dela surgiu meu irmão, agraciado com o nome comum, normal mesmo, de Rodrigo. Eu esperava que se chamasse Fevereiro, para logo apelidá-lo de Febo, mas meu pai já havia mudado de fase de vida, assim como minha mãe. O tão esperado Febo, que me eximiria da exclusividade da vergonha, traiu-me antes de ter conhecimento do significado de traição. Pérfido! Invariavelmente eu o amava, no entanto, e sorria para ele por sua boa sorte de ter menos uma pequena dor a que se curvar durante sua vida. Uma pequena leveza imperceptível e desprezada por aqueles que não sofrem do mal que a aniquila.
Portanto, eu estava sozinho nessa. Não havia com quem dividir o sofrimento. Retinha aquela sensação de desamparo geral que nos aflige como quando nos perdemos em uma cidade estranha que não conhecemos o idioma, ou quando o carro quebra em local ermo sem telefone ou sinal. Nesses momentos, a companhia de um companheiro de cela nos torna mais fortes e confiantes, pode mesmo transformar a circunstância em divertimento, e uma boa história a ser contada por duas memórias independentes e ligadas por um fato angustiante que em algum momento irá passar. Mas meu fato é perene e invariavelmente solitário.

Nunca imaginei que poderia estender tanto sobre um assunto de mérito tão duvidoso, mas esse discurso pode ser considerado entre as primícias de uma vida lamuriosa. Uma vida que me parece ordinária, embora especificamente minha, pois não há conversação entre nós, Humanos, que não envolva algum, por mínimo e imperceptível que seja, tipo de lamento, queixa, indignação, choro contido, expectativa frustrada, culpa, acusação, desdém, desprezo, ressentimento. E meu elementar gemido, meu primeiro pranto, meu sinal de vida, é minha designação leviana, minha alcunha pueril.

Esta é a terceira parte da história de Jano, que vai se construindo por si só e foi iniciada nos textos abaixo:

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